quinta-feira, 17 de março de 2016

A Aparição - Vergílio Ferreira

Eu confesso ainda estou no terceiro capítulo, não é por falta de interesse, mas sim de tempo e disponibilidade. Óbvio que assim não conseguirei fazer um resumo detalhado, contudo posso dizer que até agora o que de facto me tem cativado são as caracterizações que o Alberto Soares (personagem principal) faz dos espaços e das pessoas. Ele tem uma perspetiva peculiar das coisas, o que torna tudo mais interessante. Por exemplo, quando ele se foi apresentar no Liceu de Évora encantou-me a forma como ele descreveu o espaço (“Mas era como se o tempo habitasse os claustros de mais longe, talvez pela imensidão da planície, que lhe dava um ar de ruína.”), parecia que estava a falar de um convento o que não se compara com um Liceu. E também a maneira que caracterizou o funcionário (“Um empregado escuro olhou-me vagarosamente, longo bigode caído, olhos redondos de pasmo como os de um retrato egípcio.”) e o reitor.

Outro aspeto interessante foi a caracterização do café onde Alberto ia encontrar-se com o Dr. Moura. Era terça-feira o que significava que era “dia dos porcos”, ou seja, era um grande dia havia muita movimentação e isso originava de certa forma um ligeiro desconforto da parte de Alberto visto que o seu ambiente ideal era um quarto ou uma sala, rodeado de livros e dos seus pensamentos. Era um pouco diferente do que ele estava acostumado (“…vasto túnel apinhado de gente (…) achei a custo um lugar no canto, à esquerda de quem entra e onde viria a instalar-me para sempre.”).  Pelas citações podemos concluir que lugares movimentados não eram definitivamente uma atração para Alberto. 

Geração de 70

Bem, há algumas semanas atrás eu realizei uma apresentação oral na turma sobre a Geração de 70 no âmbito do livro Os Maias de Eça de Queiroz. Esta apresentação teve o objetivo de introduzir e clarificar o ambiente em que a família Maia vivia.

Geração de 70 é a designação para o grupo de jovens intelectuais portugueses que (primeiro em Coimbra e depois em Lisboa) manifestaram um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura principal, e integrando ainda literatos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo. Estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do século, na literatura e na crítica literária, na historiografia, no ensaísmo e na política.
Os homens da Geração de 70 tiveram possibilidade de contacto com a cultura mais avançada da Europa como não se via em Portugal desde o tempo da formação de Garrett e de Herculano. Puderam aperceber-se da diferença que havia entre o estado das ciências, das artes, da filosofia e das próprias formas de organização social no país e em nações como a Inglaterra, a França ou a Alemanha. Em consequência, esta juventude cosmopolita nas leituras, liberal e progressista não se revia nos formalismos estéticos nem naquilo que consideravam ser a estagnação social, institucional, económica e cultural a que assistiam.
O seu inconformismo havia de se manifestar em diversas ocasiões, com repercussões públicas dignas de registo.
Em 1865 é anulada a Questão Coimbrã, que opôs o grupo a pretexto de uma obra literária de mérito discutível ao ultrarromantismo instalado, que António Feliciano de Castilho personificava. Travou-se uma acesa polémica, à qual persistiam grandes diferenças ao nível das referências estéticas e também ideológicas. Mais tarde, o grupo reuniu-se na capital, formando o Cenáculo, e em 1871 organizou as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, com as quais chamou definitivamente à atenção da sociedade.
Antero suicidou-se em 1891, e por consequência disso dizia-se que esse gesto simbolizava o destino destes homens a caminho do final do século, em desilusão progressiva com o país e o sentido das suas próprias vidas.